17/10/2012
São Paulo, SP
Os
pais de um aluno do colégio São Miguel Arcanjo, na Vila Zelina, zona
leste de São Paulo, fizeram boletim de ocorrência contra um professor de
educação física após ele "simular"um golpe de judô do tipo "rasteira"
no filho de nove anos e num amigo da mesma idade. O caso ocorreu no dia 3
de outubro.
O pai de uma das crianças, o empresário Vladimir Assis, 45,
protocolou queixa contra a escola como "agressão contra menor" na D.E.R.
Centro Sul (delegacia de ensino) e registrou boletim de ocorrência por
"maus-tratos" na 56º DP (Vila Alpina). Foi requisitado um exame de corpo
de delito do tipo "ad cautela" para apurar se houve lesão na criança.
Ambos os registros foram feitos no último dia 5. Os pais do outro menino
não quiseram se pronunciar.
Por volta das 17h45 da quarta-feira, as crianças estavam na quadra de
esportes do colégio brincando de "lutinha" com outros alunos quando o
filho do empresário derrubou sem querer um colega, também de nove anos,
que machucou o cotovelo.
Ao ver a situação, o professor Thiago Lopes Gandolfi, 30, chamou a
atenção dos alunos e colocou-os sentados de castigo. Em seguida,
Gandolfi, que fez judô durante dez anos, pediu para que o filho de Assis
e seu colega levantassem e aí deu a "rasteira" nas crianças. "Eu disse
[aos meninos]: 'essa brincadeira machuca, se vocês querem fazer uma aula
de judô eu vou mostrar um golpe para vocês. Aí eu mostrei o golpe para
eles", disse o professor que trabalha há quase oito anos no colégio.
"Segurei ele nas costas, passei o pé por baixo e ele [filho do
empresário] caiu sentado no chão". A intenção da brincadeira não foi de
agredi-lo nem de humilhá-lo", explicou.
A didática do professor foi contestada pelos pais do menino. Durante
conversa de Assis com o filho, ele contou que Gandolfi colocou o "braço
em seu peito e deu uma rasteira derrubando o menino no chão" e o
professor teria dito "é bom derrubar os outros?".
De acordo com Assis, a criança mudou de atitude e não quer mais
frequentar as aulas de futebol. "Meu filho ficou envergonhado e disse
que machucou. Ele estava sendo reprimido, coagido e mudou rapidamente de
comportamento", informou o pai. "Hoje ele [professor] deu uma rasteira e
amanhã? E o trauma que fica?", disse a mãe Priscila Assis, 34.
Professores diretos do aluno negam que ele esteja se comportando
diferente nas aulas e afirmam que o menino teria confessado que a
brincadeira não doeu. A criança continua frequentando a escola, mas não
participará das aulas de futebol, segundo os pais.
OUTRO LADO
A diretora-adjunta da instituição Irene Anfimovas, 57, afirma que ela
e a coordenadora do departamento de esportes Rosana Lopes de Souza
Lune, 52, prestaram atendimento imediato ao pai da criança, mas que o
comportamento dele atrapalhou a resolução do caso. "Ele estava
extremamente agressivo [...] eu disse: 'a gente tem que ser justo com
todos. Fique certo de que isso será conduzido, mas ele não aceitou e
queria o professor presente para bater nele ou que eu o demitisse",
disse Anfimovas. O pai nega a versão.
A diretora-geral da instituição irmã Selma Maria dos Santos, 42,
disse que há dois anos já teve problemas anteriores com outro filho de
Assis, mas que na época a própria criança desmentiu o incidente. O pai
confirma que houve atrito, mas não quis fazer nenhum comentário sobre os
outros filhos. O empresário tem ainda uma menina de quatro anos
matriculada na escola.
A irmã aplicou uma advertência oral e por escrito ao professor, mas
afirmou que a escola confia no profissional e que ele se dá bem com
todos os alunos e nenhuma outra medida será tomada antecipadamente. "Eu
não vou ser injusta até os fatos serem apurados [...] tudo que faz tem
que provar", pontuou a diretora.
Inaugurado em 1952 por cinco freiras, o Colégio Franciscano São
Miguel Arcanjo completou 60 anos de existência com 1.180 alunos
estudando do nível infantil ao ensino médio. Em comemoração, um livro
azul escrito à mão por centenas de pais de alunos traz recados de
agradecimento pelo colégio ser referência de educação na zona leste de
São Paulo. Em uma das páginas do exemplar lê-se a frase: "É com a
educação que a gente vai mudar o mundo".
NOTA EDITORIAL:
A definição de violência é bastante vasta, e, quando nos deparamos com
ocorrências cometidas contra crianças e adolescentes, a aplicação deste
termo torna-se ainda mais ampla. Graças ao Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), criado em 1990, e à evolução do Sistema de Garantia
de Direitos (SGD), não só a agressão física, que por vezes mata ou deixa
marcas para a vida toda, é entendida como violência. Outras formas de
violações de direitos como o trabalho infantil, o abuso e a exploração
sexual, a negligência, o abandono e tudo aquilo que coloca em risco a
segurança e o desenvolvimento sadio das meninas e dos meninos também é
considerado violência.
Desse modo, cabe questionar se é possível determinar onde se inicia o
ciclo da violência. Atualmente, a discussão sobre as causas e
conseqüências do fenômeno considera as relações entre as crianças e seus
pais ou responsáveis. Frequentemente, essas relações estão pautadas
pela violência sob um argumento pedagógico, como no uso dos castigos
físicos e humilhantes ou nas práticas de bullying, fatores
imprescindíveis na manutenção do ciclo de violência. São situações
consideradas cotidianas, despercebidas para alguns enquanto atitudes
violentas pautadas pela repressão e desrespeito – repressão e
desrespeito, por outro lado, legitimados no contexto da violência
institucional, no narcotráfico, corrupção, etc.
Divulgação JUDOinforme
Prof. Rocha - Jornalista
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